Multi-agent Architecture Search

Multi-agent Architecture Search review by felipecferreira

A Revolução Adaptativa na Criação de Sistemas de IA Multiagentes

Seja bem-vindo(a) a mais uma exploração no universo da Inteligência Artificial, vamos falar aqui de um conteúdo sensacional publicado por Zhang e equipe (2025), chamado MaAS (Multi-agent Architecture Search).

Isto é, como construir sistemas de IA onde múltiplos “agentes” (modelos de linguagem como o GPT-4o, por exemplo) colaboram de forma eficaz e, principalmente, eficiente?

Imagine montar uma equipe de especialistas para resolver um problema.. 

Você não usaria todos os especialistas disponíveis para uma tarefa simples, certo!? 

Da mesma forma, no mundo da IA, usar sistemas multiagentes supercomplexos e caros para qualquer tipo de consulta é como usar um supercomputador para fazer uma conta de somar.. 🤣

Zhang et al (2025), perceberam que as abordagens atuais, sejam manuais (exigindo muito esforço humano) ou automatizadas, muitas vezes criam sistemas de “tamanho único” (one-size-fits-all). 

Essas soluções robustas podem até funcionar bem para tarefas complexas, mas desperdiçam um poder computacional (e dinheiro!) imenso em tarefas mais simples.

Para resolver isso, o MaAS propõe algo diferente: em vez de buscar UMA arquitetura perfeita, ele otimiza o que os cientistas chamaram de “super-rede agêntica” (Agentic Supernet)

Pense nisso como um mestre construtor que não tem apenas uma planta, mas um catálogo flexível de possíveis equipes e fluxos de trabalho.

Neste artigo, vamos desvendar o MaAS (Multi-agent Architecture Search: entender o problema que ele resolve, como a “super-rede agêntica” funciona na prática e por que essa abordagem pode ser o futuro da inteligência artificial colaborativa e eficiente. 

Então, vamos lá!!

Se quiser consultar o paper na íntegra, é só clicar aqui.

O Dilema dos Sistemas Multiagentes: Complexidade vs. Eficiência

A ideia de fazer várias IAs trabalharem juntas é poderosa. 

Sistemas multiagentes podem combinar diferentes “habilidades” para resolver problemas que um único agente teria dificuldade. 

Pense em um agente especializado em analisar dados, outro em escrever código e um terceiro em pesquisar na web – juntos, eles podem realizar tarefas complexas de forma colaborativa.

O problema? 

Montar essas equipes de IA não é fácil.

  1. Design Manual: Criar esses sistemas manualmente exige um profundo conhecimento técnico, muito tempo e experimentação. É um processo artesanal, caro e difícil de escalar ou adaptar para novos desafios.
  2. Automação Atual: Já existem ferramentas que tentam automatizar esse processo. O problema é que muitas delas buscam encontrar a “melhor” arquitetura única para um conjunto de dados ou tipo de tarefa. O resultado? Frequentemente, sistemas superdimensionados. Eles podem ser ótimos para os problemas mais difíceis daquele conjunto, mas acabam sendo excessivamente complexos e “gastadores” (como chamadas de API de LLMs e tokens processados) para as tarefas mais corriqueiras.

É como ter uma equipe de Fórmula 1 completa, com engenheiros, mecânicos e pilotos de ponta, apenas pra levar teu filho na escola.. rsrs

Funciona! Mas o custo seria Enorme.. 

Esse é o dilema que o MaAS busca resolver: como ter a equipe certa, para a tarefa certa, no momento certo?

MaAS e a Super-Rede Agêntica: Inteligência Sob Medida

Aqui está a grande mudança de paradigma proposta pelo MaAS: em vez de procurar desesperadamente pela única “receita de bolo” perfeita para um sistema multiagente, ele se concentra em criar e otimizar um “cardápio de receitas“. 

Esse cardápio é a “super-rede agêntica”.

Imagine essa super-rede como uma estrutura flexível que contém diversas possibilidades de arquiteturas de agentes. 

Ela inclui diferentes “operadores agênticos” – que são como blocos de construção representando diferentes formas de usar a IA. Alguns exemplos desses blocos incluem:

  • CoT (Chain-of-Thought): Um agente que pensa “passo a passo” para resolver um problema.
  • ReAct (Reasoning and Acting): Um agente que pode usar ferramentas (como buscar na web ou executar código).
  • Debate: Vários agentes que “discutem” entre si para chegar a uma solução melhor.
  • Self-Consistency: Um agente que gera várias respostas e escolhe a mais comum.
  • I/O Simples: Um agente que apenas recebe uma entrada e dá uma saída direta (para tarefas fáceis).
  • Early Exit: Um operador especial que diz “ok, para esta tarefa, já temos o suficiente, não precisamos de mais complexidade”.

A super-rede não é uma arquitetura fixa, mas sim uma distribuição probabilística

Isso significa que ela aprende qual combinação de operadores (qual “receita” do cardápio) tem maior probabilidade de funcionar bem para diferentes tipos de tarefas (“bolos”), considerando tanto a qualidade da resposta quanto o custo computacional.

O objetivo do MaAS não é encontrar a arquitetura única e definitiva, mas sim dominar a arte de escolher a arquitetura mais adequada (a equipe de IA sob medida) para cada desafio específico que aparece.

Como o MaAS Escolhe a Equipe Certa para Cada Tarefa?

Então, como o MaAS faz essa mágica de escolher a arquitetura ideal dinamicamente? O processo envolve alguns componentes inteligentes:

  1. Análise da Consulta: Quando uma nova tarefa (uma “query”) chega, o MaAS primeiro a analisa. Ele tenta entender a complexidade e o domínio da tarefa. É um problema simples de matemática? Requer pesquisa na web? É uma tarefa complexa de geração de código?
  2. Amostragem da Super-Rede: Com base nessa análise, um “controlador” dentro do MaAS consulta a super-rede agêntica. Ele começa a “montar” uma arquitetura camada por camada, selecionando os operadores (os blocos de construção) que parecem mais promissores para aquela tarefa específica.
  3. Adaptação Dinâmica: O interessante é que esse processo é flexível. Se a tarefa parece simples, o MaAS pode escolher uma arquitetura curta, talvez com apenas um ou dois operadores, e até mesmo acionar o operador “Early Exit” para parar o processo de construção rapidamente. Se a tarefa é complexa, ele pode continuar adicionando camadas e operadores mais sofisticados (como Debate ou ReAct com ferramentas) até montar uma equipe mais robusta. A ideia é usar apenas os recursos necessários.
  4. Execução e Feedback: A arquitetura montada sob medida é então executada para resolver a tarefa. O MaAS observa o resultado: a resposta foi boa? Quanto custou (em termos de tokens, chamadas de API, tempo)?
  5. Aprendizado Contínuo: Esse feedback (qualidade vs. custo) é usado para refinar a própria super-rede. Através de técnicas como Monte Carlo e o inovador “gradiente textual” (onde a própria IA ajuda a sugerir melhorias nos operadores e suas conexões), a super-rede aprende a fazer escolhas ainda melhores no futuro, favorecendo arquiteturas que entregam bons resultados com baixo custo.

É um ciclo virtuoso: analisar, escolher a equipe sob medida, executar, aprender com o resultado e aprimorar as escolhas futuras. 

Vamos analisar a imagem abaixo:

Fonte: Zhang et al (2025).

Do lado esquerdo, temos os diferentes ‘operadores agênticos’ (como agentes que pensam passo-a-passo, usam ferramentas ou debatem) que o sistema pode usar.

No meio, a ‘Super-Rede Agêntica’ funciona como um catálogo dessas habilidades.

O mais importante está à direita: dependendo da complexidade da tarefa (desde uma conta simples até programação complexa), o MaAS ‘monta’ uma arquitetura (um fluxo de trabalho) diferente e apropriada, usando apenas os recursos necessários.

Isso permite que o sistema se adapte continuamente, tornando-se mais eficiente e eficaz ao longo do tempo.

Resultados na Prática: Mais Inteligência, Menos Custo

Tudo isso parece promissor na teoria, mas e na prática? 

Os pesquisadores testaram o MaAS extensivamente em diversos benchmarks (conjuntos de testes padronizados) cobrindo diferentes áreas, como:

  • Raciocínio Matemático: (GSM8K, MATH, MultiArith)
  • Geração de Código: (HumanEval, MBPP)
  • Uso de Ferramentas e Tarefas Gerais: (GAIA – que inclui navegação web, leitura de arquivos, etc.)

Os resultados foram impressionantes e destacam os benefícios da abordagem adaptativa:

  1. Desempenho Superior: Em média, os sistemas multiagentes criados dinamicamente pelo MaAS superaram tanto os sistemas criados manualmente quanto os gerados por outras ferramentas de automação. As melhorias variaram de 0.54% a 11.82% em termos de precisão e qualidade das respostas, dependendo do benchmark.
  2. Economia Drástica de Recursos: Esta talvez seja a vantagem mais notável. Durante a inferência (o momento de realmente usar a IA para resolver um problema), os sistemas MaAS precisaram, em média, de apenas 6% a 45% dos custos (tokens, chamadas de LLM) dos sistemas concorrentes, incluindo os mais avançados como o AFlow. No benchmark MATH, por exemplo, o MaAS alcançou desempenho ligeiramente superior ao AFlow, mas com apenas 25% do custo de inferência!
  3. Eficiência no Treinamento: O processo de otimização da super-rede também se mostrou eficiente. No mesmo benchmark MATH, o MaAS precisou de cerca de 15% do custo de treinamento do AFlow.
  4. Flexibilidade e Transferibilidade: A super-rede otimizada pelo MaAS demonstrou boa capacidade de funcionar bem mesmo quando se troca o modelo de linguagem base (transferência entre LLMs como GPT, Qwen, Llama) e também ao aplicar uma super-rede treinada em um tipo de tarefa para outra (transferência entre datasets).

Esses resultados mostram que a abordagem de “inteligência sob medida” do MaAS não só funciona, como oferece vantagens significativas, especialmente em um cenário onde o custo computacional da IA é uma preocupação crescente. 

Ele permite obter respostas de alta qualidade de forma muito mais econômica e adaptável.

Conclusões: O Caminho para Sistemas de IA Mais Inteligentes e Econômicos

O MaAS e o conceito de super-rede agêntica representam um passo importante na evolução dos sistemas de IA multiagentes. 

Ao abandonar a busca pela arquitetura única e perfeita e abraçar a flexibilidade e a adaptação, essa abordagem abre caminho para IAs colaborativas que são não apenas mais inteligentes, mas também significativamente mais eficientes em termos de recursos.

A capacidade de montar dinamicamente a “equipe de IA” certa para cada tarefa, usando apenas a complexidade e o custo necessários, tem um potencial transformador. 

Isso pode democratizar o acesso a soluções de IA mais avançadas, tornando-as viáveis para uma gama maior de aplicações e empresas que antes poderiam ser impedidas pelos altos custos computacionais.

Estamos testemunhando o surgimento de uma nova geração de IA: uma inteligência coletiva que aprende não apenas a resolver problemas, mas também a se auto-organizar da maneira mais eficiente possível. 

O MaAS é um vislumbre fascinante desse futuro adaptativo.

O que você pensa sobre essa nova forma de construir IAs colaborativas? 

Acredita que a adaptabilidade é a chave para o futuro da inteligência artificial?

Referência

Zhang, G. et al. (2025). Multi-agent Architecture Search via Agentic Supernet. arXiv:2502.04180v1.